"TE CI DOS"
Da Oswald de Andrade, no Bom Retiro, até a FUNARTE, nos Campos Elíseos, é uma caminhada de quase dois quilômetros. No sábado, 15/ 04, fiz esse trajeto com a Marlene. Andamos a José Paulino, pegamos a Nothmann e cruzamos a Rio Branco - que divide os bairros - até chegarmos ao destino, que fica na própria Alameda Nothmann. Fazia um solzinho bom, mas as ruas tavam quase desertas, como é comum nos finais de semana da região, que fica próxima de áreas vulneráveis, como a Cracolândia.
Pensávamos nas mudanças sofridas pelos Campos Elíseos, primeiro bairro planejado de São Paulo, quando chegamos no casarão da FUNARTE, em tempo da estréia da exposição "Além dos corpos: entre rastros e existências".
Então as memórias do bairro se misturaram com as obras de 31 artistas que refletiram o protagonismo do corpo na criação artística - do material ao mais sensível.
Em "Tecidos" (2023), uma das obras mais visitadas da estreia, Laila Szafran (@lailasza ) proporciona um aspecto de maleabilidade à cerâmica esmaltada - tecido X cerâmica é de fato um bom oximoro. Impossível não lembrar da "Azulejaria Branca em Carne Viva" (2002 - Foundation Cartier), da Adriana Varejão (@adrianavarejao ) - das obras mais icônicas da arte contemporânea.
O uso do oximoro também foi bem explorado na obra "Pregos" (2022 -), do Andrés Suárez (@andre_s_uarez ), onde pregos modelados em argila são fincados no cubo branco de maneira tortuosa.
"Quintal de família: hoje não é sexta, mas a gente pode dançar" (2022 -). Quando entrei na instalação do Gustavo Santana, voltei a um tempo que não era meu. Na sala escura, rendados brancos pendurados pelo teto de maneira vertical são intercalados no espaço. Neles são projetadas fotos do Gustavo e da sua família. Quase da pra sentir o cheiro de mato do quintal. Barulho de água. Barulhinho de conversa quando gente querida se encontra.
Essa obra me remeteu à série "Grande Núcleo" (1960 - foto 6/GV Cult-UOL), em que Oiticica (@cma.heliooiticica ) lança novas questões relativas à cor, forma, suporte e interação nas instalações artísticas.
A partir de uma manga de blusa feita de retalhos, Yasmin Có (@co.art.br ) se conecta com minha (ou nossa?!) infância. Essa manga de lá acrílica é ligada à imagem do clássico personagem "Bambi", também em lã, numa tela feita de vidro e talagarça. Aqui fui ass4ltad0 por uma série de referências. A principal delas é Nazareth Pacheco e seus vestidos: "She lost it" (2012 ); "Minha infância nunca perdeu sua magia " (2012 ); e sua obra da série "Vestido" (2000), feita de cristais, miçangas e navalhas
Um diálogo feito por meio de roupas e memórias.
"Além dos corpos: entre rastros e existências " partiu do encontro entre estudantes do Instituto de Artes da Unesp, e fica na @funarteoficial sp de 15 de abril até 14 de maio.
Texto
e imagens
Bruno Alves
@brunoap2
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